Efeitos do Transtorno do Déficit de Atenção /Hiperatividade (TDAH) na vida adulta - Parte II: Sintomas Característicos

Cíntia Aparecida Barbizan 

Instituto Innove

O TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é um distúrbio neurobiológico reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), podendo ser observado desde a infância e adolescência, ocorrendo principalmente no período escolar. Apesar dos estudos se voltarem ao TDAH infantil, hoje é sabido que os sintomas podem persistir na vida adulta, acarretando uma série de prejuízos sociais e profissionais. 

É importante ressaltar que o transtorno não está ligado somente a fatores culturais ou conflitos psicológicos, mas sim a alterações nas regiões frontais do cérebro, responsáveis pela inibição do comportamento e controle da atenção. A presença dessas alterações juntamente com um ambiente desfavorável produz o que conhecemos como sintomas do TDAH. 

Os sintomas associados aos adultos não divergem dos encontrados na população infantil, sendo eles padrão crônico de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Porém, pode-se observar que esses padrões afetam em diversas proporções as atividades de vida diária dos indivíduos com TDAH. Entre elas estão:

o Falta de Organização (Desorganização): Dificuldade em estabelecer prioridades. Há uma tendência em iniciar novas tarefas antes do termino das anteriores, deixando tarefas pela metade e a sensação de que falta tempo para realizar o que planejou. 

o Atrasos: Dificuldade frequente de cumprir horários e compromissos. No trabalho, tendem a adiar tarefas que julgam desinteressantes ou desagradáveis, fazendo com que percam os prazos de entrega ou cheguem sempre atrasados ao local de trabalho. 

o Relacionamentos: Dificuldade de manter relacionamentos. As mudanças de comportamento e a dificuldade de seguir regras prejudicam o convívio de adultos com TDAH com outras pessoas. 

o Instabilidade de Humor: A alteração do humor ocorre de forma repentina, fazendo com que o indivíduo vivencie em um curto espaço de tempo, sentimentos mistos, como raiva, alegria, satisfação ou desmotivação. 

o Dificuldade em se expressar: Em situações sociais, é muito comum sentir desconforto ou medo por não conseguir acompanhar o que está sendo discutido. Dificuldades também em descrever o que estão sentindo, pois assim como os pensamentos, os sentimentos são desorganizados.

o Necessidade de mudança/novidade: Normalmente, apresentam dificuldades em se manter em uma mesma atividade por longo período de tempo. Isso aplica as relações de trabalho e as pessoais. Há uma necessidade constante de sentir-se motivado pelo o que está fazendo. 

o Sentimento de Inferioridade: Por sentirem dificuldade em executar pequenas atividades diárias, os adultos com TDAH se sentem incapazes de realizar feitos maiores. Acreditando que não conseguirão bons empregos ou relacionamentos duradouros.

o Procrastinação: Deixar para a última hora o que precisa ser feito. Atividades que exijam maior controle da atenção são sempre deixadas de lado, fazendo com que haja atrasos no trabalho ou atividade acadêmica.

o Depressão e estresse: o estresse e depressão são mais associados à rotina muito agitada e, raramente, levam as pessoas a um médico que pode fazer o diagnóstico de déficit de atenção. Ter dificuldades para se concentrar em tarefas importantes gera estresse e ansiedade. 

Muitos dos sintomas apresentados podem ser encontrados em indivíduos não portadores do transtorno, diante disso é importante que o diagnóstico seja realizado por uma equipe multidisciplinar, em que o neurologista, o psiquiatra, o psicólogo e o neuropsicólogo estejam presentes, podendo descartar ou afirmar a presença de um quadro característico de TDAH. O diagnóstico precoce auxilia no tratamento, elencando estratégias que proporcionarão melhora significativa nas relações pessoais e profissionais.

A terapia comportamental através da ferramenta da análise funcional é capaz de fazer um panorama junto do cliente das áreas que estão mais afetadas em sua vida e quais são os comportamentos que favorecem que essas dificuldades se mantenham. Após essa análise é possível levantar hipóteses e estratégias que serão utilizadas tanto no trabalho quanto na vida pessoal com o objetivo de favorecer a melhora do cliente. A terapia aliada à medicação, quando necessário, proporciona que o individuo fique consciente dos seus pontos fracos e fortes, facilitando o entendimento das dificuldades e as mudanças comportamentais que o ajudarão no seu dia-a-dia. No próximo texto (Parte III) serão abordadas quais as estratégias mais usadas na terapia do adulto com TDAH e a forma como esse trabalho é realizado.